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Veja dicas de professor que tirou nota mil na redação do Enem

Allan Nascimento
Allan Nascimento
Publicado em 03/11/2017 às 16:06
Redação nota máxima
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Marcos de Andrade, professor de literatura do Colégio GGE, foi um dos inscritos que atingiram a nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2016. Com o tema 'Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil', apenas 77 candidatos alcançaram o feito. A dois dias para o primeiro domingo de provas, ele compartilha com o blog algumas estratégias que foram aplicadas durante a produção do texto.

"Não tem fórmula e não tem segredo. Existem técnicas que ajudam. Conhecer em profundidade a matriz do Enem, ler o manual de redação publicado pelo Inep e saber aplicar cada uma das competências ajuda bastante", comenta o professor. 

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Abaixo, veja alguns tópicos que podem ajudar a melhorar o seu rendimento na prova e leia o texto de Marcos de Andrade:

Fazer logo a redação ou deixar para depois de responder a prova?

Como a redação é relevante para praticamente todos os cursos, no País inteiro, eu começaria a prova pela redação. Eu faria logo o meu rascunho. Essa foi a estratégia que segui no ano passado. Fiz o rascunho e fui para a prova de matemática [à época, eram aplicadas no mesmo dia]. Escolhi ir para um outro tipo de raciocínio para que eu “esquecesse” o meu texto, para que, quando eu voltasse para ele, me comportasse como um corretor da redação. Corrigi o meu texto e o passei a limpo. Somando o tempo de rascunho mais o tempo gasto para passá-lo a limpo, gastei cerca de uma hora para fazer a redação, o que deu para responder às outras questões no tempo adequado.

Busque ajuda nos textos de apoio

A prova de redação não avalia somente a escrita, mas também a leitura. Há na proposta de redação textos motivadores, textos de apoio, que não podem em hipótese alguma ser copiados, mas que servem de referência para o candidato. É importante ler estes textos com atenção. Reflitam sobre eles em profundidade. Estes textos vão apresentar determinadas palavras e expressões-chave, que precisam ser grifadas (eu adoto essa tática), e alguma reflexão pode ser pontuada em torno dessas questões-chave.

No texto que eu fiz no ano passado, todos os elementos apresentados pelos textos de apoio foram abordados de maneira sintética, porém foram aprofundados por mim, sem a necessidade de copiar qualquer informação do texto.

É uma forma muito interessante de não se fugir ao tema. Faça uma leitura profunda, cuidadosa e atenciosa dos textos de apoio, grifando as palavras e expressões-chave, e fazendo com que essas ideias apareçam no seu texto sem jamais copiar qualquer elemento do material de apoio.

Esquematize as suas ideias

Faça um esboço, um esqueleto, um esquema da sua redação. No ano passado, adotei essa estratégia. Anotei qual era o meu tópico frasal inicial, qual a minha tese e o que eu queria defender. Na sequência, detalhei qual seria a minha estratégia argumentativa, o que eu queria no meu parágrafo de desenvolvimento, qual seria a relação dele com o segundo parágrafo, o que eu queria que aparecesse no meu segundo parágrafo de desenvolvimento, quais eram os argumentos principais… Esquematizei tudo isso.

Na minha proposta de intervenção, detalhei qual seria a minha proposta central, qual seria o agente, e como essa proposta aconteceria caso esse projeto de intervenção fosse adotado pela sociedade. Esse esqueleto me ajudou a me manter preso, atado, ao tema central, que foi o tema que eu estudei em profundidade nos textos de apoio. E daí em diante eu passei a escrever o meu rascunho me prendendo ao esquema que elaborei, o que me impediu de fugir do tema.

Durante o texto, o uso de palavras-chaves que remetiam ao tema foi um outro fator de manutenção temática, então tudo isso o candidato pode usar como um recurso de não-fuga ao tema, nem a fuga total, o que levaria a redação a uma nota zero; nem para tangenciar apenas o tema, fazendo uma abordagem muito superficial do assunto, o que também seria muito prejudicial para o texto.

REDAÇÃO

O poeta Murilo Mendes se dizia "partícula de Deus", já o também poeta Carlos Drummond de Andrade confessava-se "sem teogonia". A despeito das divergências de credo, ambos os poetas conviveram fraternalmente e produziram alguns dos pontos altos da lírica brasileira. Na contra-mão do que ensinam os poetas, ainda grassa, na sociedade brasileira, a intolerância religiosa, fato que torna pertinente a análise desse problema que atenta contra a liberdade de crença.

Recentemente, os líderes católico e luterano celebraram juntos, na Suécia, a tolerância e o perdão. Esse gesto deve servir de exemplo às sociedades, especialmente no Ocidente, para a boa coexistência entre as crenças. E mais: como boa parte do mundo ocidental - o que inclui o Brasil - optou pelo Constitucionalismo moderno, que consagra o Estado laico, o gestos dos religiosos e dos poetas deve ser tomado como ponto de partida para um convívio tolerante entre os crentes e entre estes e os não crentes num Estado Democrático de Direito.

Todavia, ainda estarrece o fato de que, divergindo dos bons exemplos, ainda haja tanto a progredir por parte da sociedade brasileira na senda da tolerância reliogiosa. Na fluidez destes "tempos líquidos", como diria Zygmunt Bauman, nem mesmo o ordenamento jurídico, o qual, segundo o filósofo e jurista João Maurício Adeodato, da UFPE, é "o último repositório de normas éticas comuns na Pós-Modernidade" e que consagra a laicidade e pune a intolerância, sequer parece ter forças para impedir os muitos casos de desrespeito e violência em função do credo.

Evidentemente, medidas profundas de enfrentamento da questão devem ser tomadas. O Estado, por meio dos Poderes Legislativo e Judiciário, deve ampliar o rigor das Leis que punem crimes de intolerância religiosa, a sociedade civil organizada deve não apenas cobrar a eficácia do ordenamento jurídico, mas também, através de ONG's, OSCIP's e Associações, realizar campanhas educativas de conscientização dentro e fora das escolas, os agentes midiáticos devem apoiar tais campanhas, disseminando-as por meio dos veículos de comunicação em massa. Com intervenções assim, as múltiplas "partículas de Deus" e os muitos "sem teogonia" passarão a ter um caminhar mais fraterno em sociedade no Brasil.