DICAS

Redação nota máxima: conheça o texto de Cecília Lima

Allan Nascimento
Allan Nascimento
Publicado em 04/09/2017 às 16:33
Redação nota máxima
Redação nota máxima FOTO: Redação nota máxima

Em 2015, pouco mais de uma centena de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio conseguiu alcançar a nota máxima na redação, que teve como tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Entre os 104 candidatos, estava a paraibana Cecília Lima, 27 anos. Formada em jornalismo, na época a agora universitária se preparava para ingressar no curso de medicina.

LEIA MAIS

Conheça a história de Cecília Lima, que depois de formada voltou para o cursinho

Era a segunda vez que ela se submetia ao Enem para conseguir ingressar na nova graduação. “Na minha primeira tentativa, em 2014, eu tirei 900”, relembra. “As pessoas comentam que no ano seguinte tirei a nota máxima por ser jornalista, mas não é bem assim. Eu não tirei mil por ser jornalista, porque, se fosse assim, vários jornalistas que fizessem o Enem iriam tirar essa nota”, comenta ela, que explica existem diferenças entre o texto jornalístico e a argumentação exigida pela prova.

Para Cecília, ela atingiu essa nota porque se dedicou a estudar o que era especificamente cobrado pelos avaliadores. “Eu estudei para a redação como estudava para as outras matérias. Tinha a parte teórica e tinha a parte prática. Então, além de estudar a fundo o que o Enem cobrava em cada uma das competências, eu praticava a escrita de modo que atendesse a todos os requisitos que eles julgam”, orienta.

Entre agosto e setembro daquele ano, ela também estabeleceu a meta de escrever uma redação por dia. Para que fosse analisado o que ela estava praticando, a universitária, que era assinante de alguns sites de correção, enviava aos portais o que produzia e aprimorava a escrita a partir dos feedbacks recebidos.

Apesar da distinção na construção textual, para Cecíia a formação em jornalismo lhe foi últil. Tanto na construção de um repertório que lhe subsidiasse na argumentação como também lhe deu habilidade para organizar as ideias de forma rápida. E deixa uma dica: “se você é uma pessoa que lê muito, que tem conhecimento de mundo, vai conseguir levar isso para o texto”.

Veja abaixo o texto de Cecília no Enem 2015:

Violação à dignidade feminina

Historicamente, o papel feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos interesses masculinos e tal paradigma só começou a ser contestado em meados do século XX, tendo a francesa Simone de Beauvoir como expoente. Conquanto tenham sido obtidos avanços no que se refere aos direitos civis, a violência contra a mulher é uma problemática persistente no Brasil, uma vez que ela se dá- na maioria das vezes- no ambiente doméstico. Essa situação dificulta as denúncias contra os agressores, pois muitas mulheres temem expor questões que acreditam ser de ordem particular.

Com efeito, ao longo das últimas décadas, a participação feminina ganhou destaque nas representações políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada, contudo, ainda obedecem a uma lógica sexista em algumas famílias. Nesse contexto, a agressão parte de um pai, irmão, marido ou filho; condição de parentesco essa que desencoraja a vítima a prestar queixas, visto que há um vínculo institucional e afetivo que ela teme romper.

Outrossim, é válido salientar que a violência de gênero está presente em todas as camadas sociais, camuflada em pequenos hábitos cotidianos. Ela se revela não apenas na brutalidade dos assassinatos, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura feminina em ditos populares, piadas ou músicas. Essa é a opressão simbólica da qual trata o sociólogo Pierre Bordieu: a violação aos Direitos Humanos não consiste somente no embate físico, o desrespeito está –sobretudo- na perpetuação de preconceitos que atentam contra a dignidade da pessoa humana ou de um grupo social.

Destarte, é fato que o Brasil encontra-se alguns passos à frente de outros países o combate à violência contra a mulher, por ter promulgado a Lei Maria da Penha. Entretanto, é necessário que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais delegacias especializadas, em turnos de 24 horas, para o registro de queixas. Por outro lado, uma iniciativa plausível a ser tomada pelo Congresso Nacional é a tipificação do feminicídio como crime de ódio e hediondo, no intuito de endurecer as penas para os condenados e assim coibir mais violações. É fundamental que o Poder Público e a sociedade – por meio de denúncias – combatam práticas machistas e a execrável prática do feminicídio.